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Síndrome de Asperger: O que é e como se trata?

18 de fevereiro, 2024

Por ocasião do Dia Internacional da Síndrome de Asperger, assinalado no dia 18 de fevereiro, partilhamos um artigo de opinião da Dra. Joana Martins, Neuropediatra no CNS Braga.

A síndrome de Asperger é uma perturbação neuropsiquiátrica que se caracteriza por dificuldades significativas na interação social, na comunicação e no comportamento. É considerada uma perturbação do espectro do autismo (PEA) mais ligeira. As crianças com esta síndrome distinguem-se por desenvolverem linguagem verbal e por apresentarem um nível cognitivo normal ou mesmo acima da média em algumas áreas.

A síndrome de Asperger é bastante mais comum do que o autismo clássico, afetando 20 a 25 crianças por cada 10 mil. Em Portugal estima-se que existam cerca de 40 mil portadores desta síndrome. É mais comum nos rapazes do que nas raparigas (cerca de 10 para um).

As manifestações clínicas da síndrome podem ser observadas antes dos 2 anos de idade. Os sintomas iniciais típicos são a dificuldade em manter um contacto ocular confortável e em utilizá-lo em conjugação com outras formas de comunicação e a hipersensibilidade aos estímulos, particularmente sonoros, mas também luzes, sabores ou texturas.

A estes sintomas associam-se tipicamente:
– Dificuldade de comunicação, sobretudo na comunicação não verbal. A criança com síndrome de Asperger tem dificuldade em descodificar mensagens para além do conteúdo verbal explícito, nomeadamente tom de voz, segundos sentidos, ironia, humor, expressão facial e corporal. Tende a interpretar de forma literal. Pode existir pouca iniciativa de comunicação e/ou comunicação muito centrada nos tópicos de interesse e na perspetiva do próprio, com pouca oportunidade de participação de outras pessoas
– Dificuldade no relacionamento com outras pessoas, por falha na compreensão dos outros e em mostrar empatia
– Dificuldade em compreender as regras sociais e de conduta, como, por exemplo, levantar o dedo para falar na sala de aula ou esperar numa fila
– Descoordenação motora e dificuldades na motricidade fina, afetando a destreza e dificultando a prática de alguns desportos
– Necessidade de estabelecer rotinas e resistência a alterações desta, que geralmente causam ansiedade e instabilidade no comportamento
– Interesse restringido a temas muito específicos que dominam as conversas e as atividades
– Descontrolo emocional em situações de sobrecarga, por dificuldade na compreensão e gestão os próprios sentimentos e as emoções

A apresentação clínica da síndrome de Asperger é, no entanto, muito variada e influenciada pela idade de início e pela eventual associação a outras comorbilidades, como défice de atenção, perturbação de tiques, ansiedade e depressão, que devem ser reconhecidas e abordadas.

Não são conhecidas as causas da síndrome de Asperger, no entanto, sabe-se que tem uma forte componente genética. Os genes que têm vindo a ser identificados estão envolvidos no desenvolvimento cerebral, influenciando a transmissão de sinais entre os neurónios e a forma como a informação é processada. Além disso, a interação entre fatores genéticos e ambientais parece ser igualmente relevante no desenvolvimento desta perturbação.

O diagnóstico da síndrome de Asperger é clínico, baseado na história clínica fornecida pelos pais e na observação do comportamento da criança na consulta, com recurso a avaliações formais do desenvolvimento.

Não existe medicação específica para a síndrome de Asperger, mas existem intervenções terapêuticas que possibilitam uma melhor convivência com a doença. Uma criança com síndrome de Asperger, acompanhada desde cedo, pode fazer o percurso escolar habitual.

A intervenção é multidisciplinar, envolvendo neuropediatras, pediatras, pedopsiquiatras, psicólogos e terapeutas, e deve ser personalizada, deforma a responder às necessidades de cada doente. Pode incluir acompanhamento psicológico, terapia cognitivo-comportamental e, eventualmente, terapia da fala e ocupacional. O tratamento das condições neuropsiquiátricas associadas é fundamental, podendo estar indicada medicação dirigida no sentido de obter um melhor controlo dos sintomas e maior sucesso nas outras intervenções.

De uma forma geral, o apoio e compreensão dos familiares, amigos, professores e colegas são fundamentais. Na verdade, a família tem um papel central na abordagem da síndrome, ao estimular a socialização e ao promover o desenvolvimento de competências sociais básicas, encorajando o contacto visual, antecipando e explicando alterações à rotina, auxiliando na compreensão das próprias emoções e dos outros, diversificando interesses e fortalecendo a autoestima, ao valorizar os sucessos.