Tiago Eça, Otorrinolaringologista no CNS – Campus Neurológico, esclareceu o conceito de vertigens, explorou as suas causas e explicou a importância de um diagnóstico preciso para o seu tratamento. Além disso, mencionou os métodos de recuperação funcional e abordou algumas estratégias preventivas.
Pode esclarecer o que são as vertigens?
Tiago Eça (TE) -Vertigem é um sintoma que se define como ilusão de movimento. É a noção de que o meio ambiente em nosso redor está a mexer-se, quando de facto não está (vertigem externa) ou que o nosso corpo se está a mexer em relação ao meio ambiente (vertigem interna). Por vezes, encontramos a expressão “Síndrome Vertiginoso”, mas é apenas uma expressão que reúne o conjunto de sinais e sintomas que ocorrem em simultâneo com a vertigem, como as náuseas, vómitos e/ou o desequilíbrio, não sendo um diagnóstico.
Qual é a causa das vertigens?
TE – A vertigem pode ser um sintoma de lesão do ouvido interno, do nervo que transporta as informações do equilíbrio até ao cérebro, ou das regiões do Sistema Nervoso Central que processam a informação do equilíbrio, dos movimentos oculares ou mesmo da visão.
As causas mais frequentes de vertigem são a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), comumente designada por “Vertigem dos Cristais”, que consiste no deslocamento de partículas no interior do ouvido interno, resultando num quadro clínico de vertigem desencadeada pelos movimentos da cabeça. A outra etiologia muito frequente é a vertigem associada a enxaqueca ou enxaqueca vestibular, que pode ter várias formas de apresentação, desde mimetizar uma VPPB até situações de vertigens que surge espontaneamente e simular uma situação de lesão inflamatória do nervo do equilíbrio (nevrite vestibular).
Uma etiologia cujo nome se encontra bastante difundido na comunidade não-médica é a Doença de Ménière, que se caracteriza por episódios reincidentes de vertigens, acufenos (zumbido) e sensação de ouvido tapado, que aparecem espontaneamente. Esta doença tem como característica a dilatação do ouvido interno, que atualmente se consegue caracterizar por métodos específicos de ressonância magnética, embora ainda não se saiba exatamente o que é que origina essa alteração.
Quais são os tipos de tratamento que existem para as vertigens?
TE – É fundamental obter um diagnóstico correto, pois o tratamento pode consistir em manobras posicionais para reposicionamento de partículas (no caso da VPPB) ou basear-se em medicação quer de SOS, quer profilática para evitar mais episódios (no caso da enxaqueca vestibular). É importante que o tratamento farmacológico seja dirigido a um diagnóstico específico e que não sejam tomados medicamentos “anti-vertiginosos” independentemente do diagnóstico e por tempo indeterminado, por forma a evitar consequências da toma prolongada desses fármacos.
O tratamento e a recuperação das pessoas com vertigens passa frequentemente por uma modalidade específica de fisioterapia, a reabilitação vestibular, na qual através de técnicas de adaptação, substituição e habituação se tenta devolver a autonomia funcional de cada pessoa.
Existe alguma forma de prevenção para o aparecimento de vertigens?
TE -Nas doenças que têm um caráter recidivante ou periódico, existem tratamentos destinados a evitar o desencadeamento de vertigens. Na enxaqueca vestibular, por exemplo, devem ser evitadosos fatores desencadeantes, que podem variar entre cada pessoa. Na Doença de Ménière sabemos que ter um sono de qualidade, ter atenção à quantidade de água que se ingeredurante o dia, e adotar hábitos alimentares equilibrados e saudáveis,são os pilares fundamentais para evitar o aparecimento de vertigens.