Por ocasião do Dia Internacional da Na grande maioria dos doentes de Parkinson o tratamento farmacológico permite manter uma vida ativa e com qualidade durante muito tempo. Contudo, em alguns doentes, as complicações motoras podem vir a ser de difícil tratamento e a abordagem cirúrgica deve ser considerada. Partilhamos um artigo de opinião do Prof. Doutor. Alexandre Mendes, Neurologista do CNS Braga, no qual explica os benefícios do tratamento cirúrgico e quando deve ser considerado.
O diagnóstico de doença de Parkinson é clínico, é feito por um neurologista com base nos sintomas e nas alterações ao exame físico que o doente apresenta. O tratamento disponível é sintomático e permite melhorar de forma importante os sintomas motores e não motores.
Na grande maioria dos doentes o tratamento farmacológico permite manter uma vida ativa e com qualidade durante muito tempo. No entanto, é frequente surgirem complicações motoras, flutuações motoras e movimentos involuntários (as discinesias), passados vários anos de tratamento. As flutuações motoras correspondem ao aparecimento, ao longo do dia, de períodos em que os sintomas estão bem controlados a alternar com períodos em que os sintomas reaparecem. A adaptação da medicação permite melhorar de forma satisfatória as complicações motoras durante períodos mais ou menos longos.
Nalguns doentes, sobretudo quando os sintomas têm início em idades mais precoces, as complicações motoras podem vir a ser de difícil tratamento e o tratamento cirúrgico deve ser considerado.
O tratamento cirúrgico mais utilizado é a estimulação cerebral profunda, dos núcleos subtalâmicos. Esta técnica foi utilizada pela primeira vez em Grenoble, em 1993 e passa por implantar elétrodos cerebrais que são ligados a um estimulador implantado no tórax. Verificou-se que este tratamento permitiu uma acentuada melhoria das complicações motoras e do tremor resistente à medicação pelo que teve grande aceitação e expansão. Os doentes que têm maior benefício são os que têm boa resposta ao tratamento com os fármacos, mas têm complicações motoras que causam incapacidade. São critérios para a cirurgia, entre outros, não haver alterações cognitivas significativas, não haver sintomas psiquiátricos descompensados e idade inferior a 70 anos. Em doentes mais idosos o benefício será menor e os riscos mais elevados.
Para obter o melhor benefício, a implantação dos elétrodos tem de ser muito precisa e o seguimento dos doentes, com regulação dos parâmetros de estimulação e gestão do tratamento com os fármacos, tem que ser feito de forma cuidadosa por neurologistas experientes neste tratamento.
Quando os doentes têm as características adequadas, a implantação dos elétrodos é a ideal e a programação da estimulação e a gestão dos fármacos são adequadas, os doentes apresentam um benefício marcado. Os períodos do dia em que os sintomas são mais marcados tendem a desaparecer, a medicação para a doença de Parkinson é reduzida e as discinesias diminuem ou desaparecem. A cirurgia também permite um bom controlo do tremor, o que nem sempre é conseguido com a medicação. Deve ser realçado que o tratamento cirúrgico não altera o curso progressivo da doença e que, de forma diferente, de doente para doente, irão surgir sintomas resistentes aos vários tratamentos disponíveis.
O tratamento cirúrgico obriga a fazer vários testes e exames, implica haver material implantado, e tem riscos, sendo o principal uma hemorragia cerebral durante o procedimento, que é pouco frequente, mas pode deixar sequelas. Por estes motivos, este tratamento é reservado para doentes que tenham incapacidade para as atividades quotidianas causada pelas complicações motoras.
Em resumo, o tratamento cirúrgico, entre outros tratamentos avançados disponíveis, permite uma melhoria muito significativa em doentes com complicações motoras e incapacidade. É feito em Centros com equipas multidisciplinares e pressupõe que o doente esteja bem informado e motivado.
Prof. Doutor Alexandre Mendes<br>
Neurologista e Especialista em Doenças do Movimento<br>
CNS – Campus Neurológico Braga