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Em Portugal, 200 000 pessoas sofrem de demência

21 de setembro, 2024

Partilhamos um artigo de opinião da Dra. Sofia Rocha, neurologista do CNS, com o objetivo de alertar para a importância desta doença: como devemos agir, melhorar e ajustar atitudes.

No dia comemorativo da Pessoa com Doença de Alzheimer, 21 de setembro, o CNS – Campus Neurológico alerta pelo facto de existirem quase 200 mil pessoas com demência em Portugal, sendo a Doença de Alzheimer responsável por 60 a 70% dos casos. A perspetiva é de crescimento destes números, associada ao envelhecimento da população e aumento da esperança média de vida.

A doença de Alzheimer, principal causa de demência, reflete-se na perda da memória (sobretudo a recente), desorientação no tempo e no espaço, dificuldade no reconhecimento de pessoas e alteração da linguagem. Trata-se de uma doença degenerativa e progressiva, implicando perda da capacidade para desempenhar as atividades do dia-a-dia de forma autónoma. Afeta todo o agregado familiar, sobretudo o cuidador principal.

A procura de ajuda médica, a aceitação do diagnóstico e a sua compreensão são fundamentais para ajustar expectativas e definir planos a curto e longo prazo. A avaliação médica inicial dos indivíduos com queixas sugestivas desta doença inclui a realização de um exame de imagem cerebral e análises, cujo objetivo é excluir causas tratáveis de demência. Adicionalmente, já existem biomarcadores que permitem uma maior sensibilidade para o diagnóstico de doença de Alzheimer.

Embora estejam em curso muitos ensaios clínicos, na Europa (com exceção do Reino Unido), não estão aprovados tratamentos modificadores do curso da doença, pelo que a abordagem terapêutica atual passa pelo controlo sintomático e terapias físicas, ocupacionais e de estimulação cognitiva. O controlo de fatores de risco modificáveis para a doença de Alzheimer é também fulcral. Devemos por isso reduzir os fatores de risco vascular, através das seguintes medidas: não fumar, ter uma dieta saudável, praticar exercício físico, ter boa higiene de sono, corrigir os défices sensoriais (visão e audição) e manter-nos física e socialmente ativos.

Apesar da elevada prevalência da doença de Alzheimer, e do seu peso social, económico e emocional, observamos ainda muitos estigmas sociais relativos à doença e falta de conhecimento. A população, e até mesmo profissionais de saúde, têm ainda conceitos errados. Muitos acreditam que a demência faz parte do envelhecimento normal e que demência é sinónimo de Doença de Alzheimer.

Neste sentido, urge realçar factos, melhorar conhecimentos e tomar atitudes.

De acordo com o relatório da ADI (Alzheimer’s Disease International) de 2019, 62% dos profissionais de saúde consideravam que demência fazia parte do envelhecimento; 35% dos cuidadores esconderam o diagnóstico de demência e 25% da população entendia que nada podia ser feito contra a demência. Na verdade, o envelhecimento cerebral acarreta algum declínio cognitivo, mas a demência é sempre anormal, independentemente da idade. Por outro lado, a Doença de Alzheimer é apenas um dos tipos de demência que existem, sendo a mais frequente e a mais conhecida. Além disso, os sintomas da doença podem ser controlados farmacologicamente e com terapias físicas, ocupacionais e de estimulação cognitiva.

Dr.ª Sofia Rocha, neurologista do CNS – Campus Neurológico, salienta que, ‘numa era em que se fala muito de tratamentos modificadores do curso da doença, o estigma e a discriminação em relação à pessoa com Alzheimer continuam a ser entraves à procura de cuidados de saúde e de suporte. Devemos todos elucidar e desmistificar preconceitos, proporcionando atempadamente acesso do doente a novos métodos de diagnóstico e inclusão em ensaios clínicos. Estima-se que 75% dos doentes com demência não são diagnosticados. E o diagnóstico, ainda que árduo, é apenas a primeira etapa de um percurso cujo suporte tem de ser melhorado. Adicionalmente, numa elevada percentagem de casos, as inseguranças e dúvidas dos cuidadores são igualmente ainda mal apoiadas e geridas, a par das suas dificuldades pessoais financeiras e de tempo para apoiarem o doente com demência’.

A divulgação e consciencialização podem ajudar a melhorar os cuidados que prestamos a estes doentes e a otimizar a atitude política. A participação de todos melhorará seguramente a qualidade de vida da pessoa com Doença de Alzheimer.

 

Dra. Sofia Rocha, Neurologista

CNS – Campus Neurológico